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Zan Entrevista: Outubro Rosa pelos olhos de Giovana Damaceno

Conheça a autora do livro “Do Lado Esquerdo do Peito”, que conta, bem humorada, como enfrentou o câncer de mama.


Estamos no Outubro Rosa, movimento popular comemorado em todo o mundo. O nome remete à cor do laço que é símbolo da luta contra o câncer de mama e estimula pessoas, empresas e organizações à união pela conscientização da causa.


O movimento começou nos Estados Unidos, no fim do século 20, quando vários estados que faziam ações isoladas referentes ao câncer de mama se uniram para transformá-las em uma organização conjunta. No Brasil, a primeira atividade em relação ao Outubro Rosa foi a iluminação do monumento Mausoléo do Soldado Constitucionalista, em São Paulo.


Para falar sobre a importância deste movimento e sobre a realidade da luta contra o câncer de mama, a ZAN ENTREVISTA conversou com a jornalista e escritora Giovana Damaceno.


Ela descobriu o câncer no fim de 2008 e, em 2013, lançou o livro “Do lado esquerdo do peito”, em que conta de forma bem humorada como enfrentou a doença com “aceitação irrestrita e pés no chão”. Vamos conhecê-la!



ZAN: Como você decidiu escrever um livro sobre o câncer e como foi sua trajetória até à escrita dele?


Giovana: Eu sou cronista e quando recebi o diagnóstico escrevi uma crônica contando o que estava acontecendo comigo. Durante todo o meu tratamento, em 2009, eu escrevia sobre o que estava passando. Eu sou uma pessoa naturalmente muito bem humorada e coloquei isso no meu tratamento, na minha forma de me comportar e me posicionar em relação à doença. Então, alguns amigos me estimularam a escrever um livro com esse mesmo toque de bom humor, porque poderia ser útil para outras pessoas que passam pelo mesmo problema. Amadureci essa ideia, levei três anos para escrever e lancei em outubro de 2013.


ZAN: O que o leitor encontra na sua obra?


Giovana: Eu fiz essas crônicas todas e juntei com vários outros textos aleatórios que eu ia escrevendo durante o tratamento. Organizei de forma cronológica para ficar compreensível. No livro eu conto sobre estar careca, sobre os piores dias de enjoo, as pequenas vitórias de cada dia e meu aprendizado pessoal. Levei três anos para escrever e parei algumas vezes, porque não é fácil reviver esses momentos delicados e dolorosos. O livro tem tom de bate-papo e conta a fundo a história, desde as primeiras suspeitas, quando descobri um caroço na mama esquerda, até o fim do tratamento.


ZAN: O que você pensa do movimento Outubro Rosa?


Giovana: É um movimento que funciona com resultados ainda pequenos. Essa campanha precisa de massificação. É necessário criar uma tradição para que as pessoas passem a prestar atenção nelas mesmas. Hoje a gente já consegue ver pessoas que se atentam à campanha e lembram de fazer um exame. Aos poucos, acredito que o objetivo vai sendo atingido.


ZAN: Você acredita que o câncer ainda é um tabu?


Giovana: Sim. Não entendo como isso ainda ocorre. Não aceito. Só porque é uma doença feia e que provoca morte... Quando a pessoa definha por conta do câncer, o fim é uma coisa que não agrada os olhos das pessoas. As pessoas não querem ver, não querem falar a respeito. Conheço pessoas não falam nem o nome da doença. O câncer é são letal quanto é uma insuficiência cardíaca, que aliás, não tem cura. O câncer tem condições de tratamento, de cura, de sobrevida por mais tempo com controle medicamentoso. Derrubar tabus é uma questão cultural e histórica. Quantos tabus ainda não temos? As mudanças são lentas.


ZAN: Qual o maior ensinamento que teve com o câncer e qual recado você deixa para quem está passando por isso hoje?


Giovana: O mais importante dos ensinamentos com o câncer foi a certeza da realidade da morte. Muitos de nós vivemos sem essa realidade estando clara e vivemos de qualquer maneira. Vivemos sem viver, passamos pela vida destruindo a vida de outras pessoas, ou sofremos uma vida inteira porque nos importamos com coisas que não são importantes. Uma das coisas que ficou mais marcante pra mim durante o meu tratamento foi a minha vida ter mais importância do que qualquer outra coisa. Ela tem muita importância pra mim, pro meu filho, meu companheiro, minha mãe, as pessoas que me rodeiam. Tem coisas que são luxo, capricho, e a elas eu dou o significado que elas têm. Tem coisas que não precisam fazer parte da minha vida. Isso me ensinou a ficar mais leve, carregar menos culpa. Quem sabe usar essas provações para o fortalecimento próprio, tem bons resultados.  

Só quem passa por isso sabe a dor, o medo e o assombro que é. Não temos uma receita ou fórmula prontas. Eu tive muitas coisas que me ajudaram a acreditar em mim e no tratamento. Uma delas é a minha fé. Primeiro numa divindade que eu creio e depois no tratamento, nos meus médicos, na minha força e na minha vontade. Isso pra mim foi fundamental. Eu sou uma pessoa muito racional. Mesmo com todos os medos, choros, emocional abatido, o meu lado racional sempre gritou mais alto. Então eu não permiti que nenhuma questão emocional atrapalhasse meu tratamento. Consegui estar tranquila e serena diante de tudo. Isso é muito difícil e muito pessoal. Cada pessoa vai encarar sua experiência da forma que ela conseguir fazer melhor por ela. Eu penso que a vida é uma oportunidade que não podemos perder.  



Do Lado Esquerdo do Peito


O livro de Giovana está à venda pela Editora Penalux e para adquirir é só clicar aqui. A autora também mantém um blog: www.giovanadamaceno.com. “Dizem que escrevo como falo”, conta Giovana. Vale muito conferir!

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